20170908

Lemmy, o herói do disco de covers do Motörhead

Se existe um paraíso para onde vão os roqueiros desencarnados, provavelmente é um lugar com Under Cöver rolando em loop infinito. Trata-se de um disco de, adivinhe, covers. Mas não um disco de covers qualquer: é, acima de tudo, um disco assinado pelo Motörhead. Mesmo fiel às versões originais, a banda imprime sua marca a cada um dos 11 clássicos revisitados entre 1982 e 2015. Nem poderia ser diferente, em se tratando do grupo liderado pelo eterno Lemmy Kilmister. Que homem!



Poucos personificam com tanta propriedade os ideais do rock como o baixista e vocalista falecido há quase dois anos. Feio, sujo & malvado, ele se sente em casa em “Breaking the Law” (Judas Priest) e “Whiplash” (Metallica), sócias do gênero musical pelo qual é reconhecido. Também se identifica com “Cat Scratch Fever” (Ted Nugent) e “Shoot ’em Down” (Twisted Sister), condizentes com o selvagem estilo de vida que sempre seguiu. Só por isso, o álbum já cumpriria a função social de conscientizar a juventude.

Apesar do jeitão ostensivo, porém, Lemmy não se limitava à música pesada. Algumas das releituras mais contagiantes miram canções de artistas de outros estilos, como “Rockaway Beach” (Ramones) ou “Jumpin’ Jack Flash” (Stones). Aquela voz inconfundível cantando “Heroes” (David Bowie) convence qualquer um de que o papo é para valer porque vem de um maluco adorável e autêntico, com imperfeições e idiossincrasias. Como são os únicos heróis em que dá para acreditar – seja apenas por um dia, seja for ever and ever.



Sempre bom
A rigor, Hitchhiker, o recém-lançado “disco perdido” de Neil Young, não é novo nem inédito. Foi gravado em uma noite de 1976 em um estúdio de Malibu, na Califórnia, e oito das 10 faixas já apareceram em trabalhos posteriores, ainda que com arranjos diferentes. As exceções são “Hawaii” e “Give Me Strength”, inspiradas pela separação entre o artista e a atriz Carrie Snodgrass. Tanto faz: o que importa é ouvir o imaculado canadense reproduzindo toadas como “Pocahontas” ou “Powderfinger” acompanhado somente por violão, gaita e piano. Sempre alentador, às vezes rústico, bonito demais.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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