20170221

Kurt Cobain, Kate Perry e outras notas aleatórias em clima de folia

1) Quando Kurt Cobain reclamava da apatia de sua geração, não imaginava que, bem ou mal, aquele seria o último momento em que o rock reinaria no mainstream. Se resolvesse comemorar seus 50 anos completados ontem com alguma música das paradas de sucesso, ele estouraria os miolos.

2) Aí vem Katy Perry toda loura & politizada em “Chained to the Rhythm”. Na apresentação no Grammy, fez referências ao muro de Trump, ao multiculturalismo e à Constituição americana. No clipe, critica o american way of life. Enquanto a crítica teoriza, fãs agradecem pela música ser aquele sorvetão na testa de sempre.



3) No Brasil, nem isso. Claro que ninguém espera contestação dos expoentes de gêneros conservadores por natureza, como sertanejo, pagode ou axé. Mas o funk poderia se valer de seu suposto apelo libertador, de sua penetração junto às massas para propor algo além da transgressão consentida.

4) Como o discurso tatibitate impede qualquer discussão quanto às letras, a tentativa de encontrar sentido onde não existe nada se estende para a sonoridade. Aparecem especialistas falando de tonalidades, melodia, harmonia e padrões estruturais de um troço que só deu onda porque é vulgar.

5) A gente só quer ser iludido. Neste Carnaval, use camisinha.

Apropriação cultural
Está bom demais o disco novo de Sinkane, Life & Livin’It. Fãs do londrino-sudanês vão notar que o álbum expande todas as direções já exploradas em seus trabalhos anteriores: é mais pop, mais afro, mais black, mais dance. Quem ainda não o conhece simplesmente irá se encantar com as levadas gostosas de “U’Huh” e “Favourite Song”, a pulsão de “Telephone”, a solenidade tribal da faixa-título ou com os climas insinuados por “The Way”. Em tempos de apropriação cultural na boca e (literalmente) na cabeça do povo, nada melhor para refletir sobre contextos & nuances.




 ANÇAMENTOS


Electric Guest, Plural – Cinco anos depois da estreia cheia de flertes com o soul, a dupla de Los Angeles faz bem em incorporar outros gêneros em seu segundo disco. Apesar de ficar devendo em originalidade, a proposta agrada quando desemboca em uma espécie de Hall & Oates indie, como em “Glorious Warrior” e “Dear to Me”.



John Filme, Black Borboloto – É uma bênção descobrir que em Chapecó tem dois caras – um na guitarra, outro na bateria – mandando um esporro danado sem se importar com rótulos. A base pende para o rock, mas o terceiro EP reserva surpresas chapadas em “Uoo Ooo” (baita nome) e “Castelo Diminutivo”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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