20161227

70 MÚSICAS DE 2016
O ano em que Beyoncé reinou absoluta

Eia! Sus! Eparrei! O ano foi tão escalafobético que até o rei do transtorno obsessivo compulsivo voltou a pronunciar “inferno” no indefectível especial de Natal. Se Beyoncé reinou absoluta como artista de 2016 – se não ela, quem? –, o mesmo não se pode dizer em relação à música. Não houve aquela que invadisse todas as AMs, FMs, elevadores, academias, celulares, salas de espera, formaturas, pistas e adjacências, tornando-se escolha unânime e inquestionável. Mas peneira daqui, pondera daqui e surgem canções suficientes para uma lista pessoal, sem distinção de gênero nem ambição maior do que distrair você:

1 | Don’t Hurt Yourself, Beyoncé



Discurso nenhum despertaria tanto engajamento se a música não tivesse força equivalente. Com a companhia inesperada de Jack White e samples de Led Zeppelin, ela se empodera para jogar na nossa cara: “Que porra você pensa que eu sou?”.

2 | Camadas, Céu



A partir da lisergia da MPB setentista, a balada se desenrola em pulsação encharcada de malícia até o refrão acenar com uma nova chance. Parece retrô, mas deixa claro que pertence a uma época de certezas líquidas e permanente transformação.

3 | The Numbers, Radiohead



Causador de turbulência, desta vez o grupo ancora em águas plácidas e tenta se movimentar sem fazer muita onda. Como a banda nunca costuma facilitar, da experiência emerge um quadro frágil e belo, tão devastado quanto devastador.

4 | Vamos Assumir, O Terno



O desafio é descobrir a idade dos integrantes – na casa dos 25 anos – e não se impressionar. Com versos dignos de quem já passou por muita coisa nesta vida e criatividade mutante, o trio paulista chega a um estágio que, se amadurecer, estraga.

5 | Pineal, Tagore



A faixa-título do melhor-disco-nacional-que-você-não-ouviu-neste-ano sugere uma versão pernambucana do Tame Impala. A diferença é que o psicodélico local sempre conviveu com o brega. O que, no contexto proposto, conta como vantagem.

6 | If I Ever Was a Child, Wilco



O mundo pode estar desmoronando que Jeff Tweedy não se abala. Respira fundo, dedilha a viola, suspira e abre um sorriso. Depois de mais de duas décadas de carreira, ele sabe que quem corre é a bola, jamais o jogador.

7 | Get Loud, Trails and Ways



Foram três EPs e um disco. Nada de mais. E então acontece. Despojados de maiores pretensões, os californianos mostram que mesmo uma bandinha fadada às divisões inferiores está sujeita a cometer a magia do pop. Ainda que uma única vez.

8 | Miracle Aligner, The Last Shadow Puppets



De férias do Arctic Monkeys, Alex Turner aproveita o projeto paralelo para aproveitar a fase iluminada. O professor de yoga que inspira a canção nem precisaria ser milagroso para fazer qualquer um dobrar os joelhos.

9 | Pink + White, Frank Ocean



Um dos primeiros rappers a sair do armário entrega uma declaração que tanto pode ser direcionada à pessoa amada quanto a uma droga. Seu verdadeiro significado torna-se secundário diante da magnitude da canção.

10 | Samba de Amor, Wado



A influência do axé em um disco batizado como Ivete é mais conceitual do que estética. No carnaval do catarinense radicado em Maceió, a folia se estende além dos três dias com uma cadência na qual é a delicadeza que não tem hora para acabar.

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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