20161115

Muito barulho por tudo

O lançamento do 10º disco de estúdio do Metallica, previsto para esta quinta-feira, encerra uma espera de oito anos. Hardwired… To Self-Destruct decreta o fim do mais longo período em que a banda ficou sem desovar nada inédito com toda a pompa – álbum duplo ou, na versão de luxo, triplo, com um CD bônus ao vivo – e nenhuma circunstância: passado este tempo, é difícil achar alguma alma fora do rebanho de fiéis seguidores que esteja esperando algo do grupo com ansiedade. Por mais que o interesse restrito aos fãs sugira uma espécie de retorno às origens, não deixa de ser um estudado passo atrás para uma instituição do metal que havia alcançado um público além dos aficcionados do gênero.



Com apelo reduzido ou não, o fato é que Hardwired… é o melhor trabalho do Metallica desde o auto-intitulado álbum preto de 1991, justamente o disco que fez a banda extrapolar o nicho siderúrgico com hits como “Enter Sandman” e “Unforgiven”. Não que fosse difícil, já que após o best-seller o quarteto tornou-se muito mais notório pela luta (perdida) contra o compartilhamento de arquivos de áudio na internet do que pelo peso de suas músicas. A segunda parte, pelo menos, é sanada logo com a faixa-título, que abre a sessão de 80 minutos de pancadaria sinalizando que o tesão voltou.

É como se o quarteto conseguisse reunir a agressividade dos primórdios com ecos da fase em que reinou nas rádios roqueiras. “Dream No More” sintetiza a proposta trazendo referências tanto do sucesso “Sad But True” como do clássico cabeludo “The Call of Ktulu” (1984). Com potencial para virar uma das prediletas em shows, “Now That We’re Dead” promove a bateção de cabeças mediante doses maciças de guitarras convertidas em serras elétricas. E por aí vai, até o desfecho com a britadeira marcial de “Spit Out the Bone”. Ah, e não adiantou nada ameaçar com processo quem baixasse suas músicas: para variar, o disco vazou antes da data oficial da chegada às lojas.

Sexo após os 80
No início da década de 1980, Tom Zé andava tão por baixo que estava pronto para voltar à sua Irará (BA) natal e trabalhar como frentista no posto de combustível de um sobrinho. Foi salvo por David Byrne, que se encantou com a obra do baiano e resolveu lançar uma coletânea dele nos Estados Unidos. Daí em diante a história seguiu seu curso natural, com o artista engatando uma profícua carreira que desemboca agora em Canções Eróticas de Ninar. Depois do samba, neste disco o menestrel estuda o sexo em modinhas e toadas com nomes singelos como “Dedo”, “Orgasmo Terceirizado” e “No Tempo Em Que Ainda Havia Moça Feia”. “(...) Só agora, aos 80, encontrei forças para mergulhar na questão. Embora ela esteja sempre presente no ar. Tema que envolve brincadeira, ansiedade, segregação, gosto, blasfêmia, oração”, diz o autor no encarte. Sacanagem é não ouvi-lo.




 ANÇAMENTOS



Belle and Sebastian, The Jeepster Singles Collection – Imagine o teor de açúcar de uma compilação de singles de uma banda já conhecida pela fofura que imprime em cada acorde, em cada refrão. Um disco terminantemente vedado a diabéticos, mesmo os que se esforçam, para ver alguma nesga de maldade na retrô “Legal Man”.



Yo la Tengo
, Murder in The Second Degree – Em 2006, a banda gravou um disco de versões afirmando que assassinava os clássicos. O truque e a piada repetem-se agora com mais uma fornada de músicas alheias traduzidas pela ótica peculiar dos indies de Nova Jérsei. No menu, cabem releituras tortas que vão desde “Hey Ya” (Outkast) a “Add it Up” (Violent Femmes).



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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