20161004

Não era amor, era só falsidade

As mulheres estão dominando o planeta. Presidem países, comandam empresas, lideram movimentos. Cada vez mais, desfilam sua superioridade em áreas tradicionalmente regidas pelos homens e não saem mais do topo. Não seria a música neossertaneja, sempre tão aberta às tendências contemporâneas, que resistiria ao empoderamento feminino: como demonstra a compilação Agora É que São Elas, os cowboys urbanos que cavalgavam solitários na crista do sucesso agora enfrentam a concorrência de prendas dispostas a tomar as rédeas desse importante filão do mercado fonográfico.



O disco reúne nomes como Marília Mendonça, Maiara & Maraisa, Simone & Simaria, Paula Fernandes e até a decana Roberta Miranda. Elas sofreram preconceito por preferir a viola às bonecas. Eram vistas com desconfiança. Talentosas, não desistiram. E conseguiram, depois de décadas de luta por direitos iguais, um lugar de destaque no clube do bolinha do sertanejo nacional – para falar das mesmas coisas do mesmo jeito que seus pares masculinos e usar calças tão apertadas quanto. Pense em balada, bebedeira, romance, sexo e traição, só que com voz mais aguda e letras com gênero trocado.



Não por acaso, o material de divulgação da coletânea limita-se a apresentar números. A cantora posicionada entre os 20 artistas mais acessados no YouTube em todo o mundo. A compositora na lista dos maiores arrecadadores em direitos autorais no ano passado. A dupla com canções que, juntas, somam quase 279 milhões de visualizações. Porque a ascensão das mulheres em uma cena movida a testosterona diz respeito a comportamento, sociedade, economia, diversão, oportunidade, engajamento, quantidade de cliques. Mas, definitivamente, tem pouco a ver com música.

Eternos moleques
Entre idas e vindas, o Suicidal Tendencies está há 33 anos entortando pescoços e promovendo rodas de pogo mundo afora. Com World Gone Mad, a banda se mostra pronta para (de)formar o caráter de uma nova geração de moleques. O 12º disco – e primeiro com a atual formação, que conta com a bateria-britadeira de Dave Lombardo (ex-Slayer) – enfileira petardos com energia de adolescente. De “Clap Like Ozzy” a “The Struggle Is Real”, passando por “The New Degeneration” e “Damage Control”, metal e hardcore unem forças para causar aquela saudável sensação de atropelamento. Diz o vocalista Mike Muir, único remanescente desde o início, que este pode ser o último trabalho. Se for mesmo, o grupo despede-se por cima.




 ANÇAMENTOS



Canto Cego, Valente – Uma das revelações do underground carioca, após três anos em gestação finalmente a estreia do quarteto em disco vem à tona. A pressão rock aliada aos versos da poeta e vocalista Roberta Dittz ditam canções como “Nuvem Negra” e “A Fúria”, enquanto o pop fala mais alto com “Sublime”.



Local Natives, Sunlit Youth – Os californianos chegam ao terceiro disco com críticas favoráveis ao seu indie pop. O que os distingue do enxame de bandas que militam na mesma esfera são as melodias: mesmo com a luminosidade de um pôr-do-sol, exalam uma melancolia que combina mais com final de noite, como em “Dark Days” e “Villainy”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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