20160719

Maximalismo para jovens

Na música, nada mais antigo do que o passado recente. Sem história suficiente para serem tachadas de clássicas ou vintage, tendências que até outro dia eram a última palavra em atua­lidade hoje parecem mais velhas do que o charleston. Essa regra inexorável atingiu o MSTRKFT em cheio. A sopa de letrinhas – pronuncia-se “masterkraft” – constante entre os modernos na primeira década deste século caducou tão rápido quanto as batidas de sua eletrônica barulhenta e agressiva. Sete anos depois da última tentativa de não morrer no museu do pop, a dupla canadense propõe um revival precoce do maximalismo com Operator.

Tudo o que fez a glória e a ruína do projeto de Jesse Keeler (também piloto do Death From Above 1979) e Al-P está neste terceiro disco: as rajadas de sintetizadores, o atordoo provocado pela britadeira de ritmos, a pauleira sem trégua. Nem os bebês que ambos tiveram recentemente aliviaram sua visão caótica de futuro. Pelo contrário, a paternidade acentuou o lado violento do dance punk que faziam. Temperatura e pressão têm que estar muito alteradas para que assaltos sônicos como “Party Line” ou “Priceless” abalem alguém a ir para a pista. Em condições normais, é provável que o cansaço vença antes de qualquer movimento.



Mais razoável, “Runaway” engana com um resquício de melodia, mas predominam mesmo a saturação e o exagero comuns para um rótulo que investe na linha “mais é mais”. Em tempos de Skrillex e Deadmau5 (significam?) aloprando a molecada, de Justice reaparecendo com “Safe and Sound” e de até as passarelas da moda apostando no luxo, na opulência e nos excessos do maximalismo, talvez o MSTRKRFT é que esteja certo em voltar para faturar o que lhe foi negado quando ainda era novidade. Velho estou eu, incomodada ficava a sua avó.

Superstar do mundo real
Já está rolando o segundo ciclo da incubadora de artistas da Célula, bastião da cultura alternativa em Florianópolis. Com a chancela (e os fundos) da Funarte, desta vez os escolhidos foram Julia Sicone, Casablanca, Gummo e Capitão Bala. Até outubro, eles receberão noções de projetos culturais e de festivais, um panorama geral do universo independente, lições para aproveitar todo o potencial de redes sociais e importância da identidade visual. Além disso, cada artista ganha duas horas semanais de ensaios nos estúdios do local, e assessoria de comunicação durante os meses da atividade, culminando com um show de meia hora na “formatura”. Com capacitação, fica mais fácil sonhar em viver de música. Confira os selecionados abaixo:

Julia Sicone



Casablanca



Gummo



Capitão Bala



 ANÇAMENTOS


Fióti, Gente Bonita – O irmão de Emicida não nega o DNA da família e chega rimando, mas privilegia a MPB como matriz do rap em seu EP de estreia. A participação do “mano” Caetano Veloso em “Obrigado Darcy” quase passa despercebida diante da cadência fundo-de-quintal do samba “Vacilão” e do aroma jamaicano exalado em “Leve Flores”.



Maxwell, Blacksummernight – Em 1996, o cantor americano despontou com Urban Suite como se fosse o messias esperado pelo R&B contemporâneo. Não rolou. Agora sem tanta badalação e muito menos expectativa, ele soltou um disquinho bem decente, com faixas como “1990x” e “Lake by the Ocean” confortando a imaginação.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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