20160607

Orgulhoso, negro e gay

O problema dos lançamentos que vêm carimbados como “de minoria” – inclusive para os autores – é que, não raro, a música fica em segundo plano. Tanto para crítica e mercado quanto para artista e público, não há como discernir até que ponto a orientação sexual, a cor da pele, a fé religiosa ou a convicção política influenciaram na receptividade do disco. A estreia de Rico Dalasam, Orgunga, reacende esse dilema: o cara é bom mesmo ou só está sendo badalado por causa da homossexualidade que permeia cada aspecto de sua obra?

Ex-cabeleireiro de Taboão da Serra (SP), o rapper de 27 anos despontou em 2015 com o EP Modo Diverso, do qual o single “Aceite-C” pregava “que ainda dá tempo de ser quem se é, tempo de ser quem se quer, assim sem se importar”. A mídia louvou a audácia, a militância adorou a postura. Mas sobre o som, nada. Passado o deslumbre inicial, seu primeiro álbum completo já não conta mais com o apelo expresso no título – junção de orgulhoso, negro e gay – como novidade. O que interessa agora é conferir se o artista sobrevive às bandeiras que levanta.



A resposta é sim, com ressalvas. Orgunga chega todo trabalhado no luxo, alinhado com as vertentes mais modernas e exibindo batidas que saem do rame-rame do gênero (“Mili Mili”, “Riquíssima”). Pelo menos uma faixa, “Dalasam”, gruda de imediato na cabeça, característica que não deve ser desprezada se o negócio é atingir as pessoas. Entre os poréns, a produção em excesso deixa tudo meio poluído e cansativo. E, ainda que se trate de um estilo em que o discurso importa mais do que a técnica, bem que o vocal podia ser mais caprichado. Faltou pouco para lacrar.

Ressaca produtiva
Baixista do Primus, Les Claypool fez barulho nos anos 1990 com “John The Fisherman”, um dos hits improváveis daquela década. Filho do beatle, Sean Lennon trocou o mimimi indie da carreira solo pela lisergia da dupla The Ghost of a Saber Tooth Tiger. Com a cabeça cheia do vinho produzido pelo primeiro, os dois botaram a ressaca para correr formando o The Claypool Lennon Delirium. O projeto faz juz ao histórico de ambos e às circunstâncias em que foi criado com Monolith of Phobos, um disco encharcado de psicodelia, experimentações e algumas rebordosas causadas pela ingestão desmedida da bebida.




 ANÇAMENTOS



Ladyhawke, Wild Things – A cantora neozelandesa virou algo bem diferente do que a classe e a aderência (não necessariamente nessa ordem) de  “Paris is Burning” sugeria em 2008. Em seu terceiro disco, ela abdicou da dance alternativa (ou “indietrônica”) e partiu para o pop fácil de “Let it Roll”, disputando um nicho em que vai ser difícil distingui-la das Carly Rae Jepsen da vida.



Da Caverna, Psychopunk Flower Tainha – Letras sacanas, rock básico e demonstrações de sua origem manezinha compõem o mote do trio de Florianópolis. A coluna confessa que prefere algo mais sutil, mas quem procura apenas diversão descerebrada vai encontrar aqui bons motivos (“Surraxco”, “Sereia”) para aloprar.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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