20160503

Limão bem espremido

Um “álbum visual”, acompanhado de um filme de uma hora que o traduz em imagens. A estreia direto no topo da parada dos Estados Unidos, repetindo a façanha dos cinco trabalhos anteriores. As mais de 650 mil cópias vendidas na primeira semana, superando inclusive um Prince redivivo pela morte. O lançamento exclusivo no Tidal, a plataforma digital com que o marido Jay-Z disputa o acirrado mercado de streamings. As letras sobre desafios e conquistas de negros e mulheres. O corpo, cada vez mais escultural. Sério mesmo que você quer ler sobre a música do novo disco de Beyoncé, Lemonade?



Pois são tantas marcas expressivas, tantos factoides, que o lado musical dela às vezes fica em segundo plano na percepção da mídia. Não deveria: para além dos clipes ultraproduzidos, das estratégias de marketing e dos flagras dos paparazzi há uma artista que, independentemente do que você e eu achemos, procurou renovar sua sonoridade na mesma medida em que passou a falar de temas mais sérios. A rainha não estava brincando quando fez referências aos radicais Panteras Negras em seu show no intervalo do Super Bowl, em fevereiro.

Em Lemonade, o R&B que pavimentou a milionária carreira da cantora divide espaço com soul, gospel, funk, rap, rock e até country (“Daddy Lessons”). As participações especiais dão um indicativo do que esperar: o tagarela Kendrick Lamar (na emblemática “Freedom”), os rouxinóis The Weeknd (“6 Inch”) e James Blake (“Forward”) e o infalível Jack White acrescentando um bocado de ruído e distorção ao universo de Beyoncé em “Don’t Hurt Yourself”. Pode não render mais aquelas filmagens caseiras com fãs pagando mico ao tentar reproduzir suas coreografias, mas periga ser ouvida por mais tempo.

Frevo no salão
Neste dia 6, a pedida é esquecer o frio com o show da SpokFrevo Orquestra em Florianópolis. A big band pernambucana ocupa o Teatro Pedro Ivo a partir das 21h para lançar o terceiro disco, Frevo Sanfonado – que, como o título sugere, leva metais, percussão, baixo e guitarra do gênero característico do carnaval recifense a dialogar com o acordeão. Entre os destaques do repertório regido pelo maestro Spok estão “Sax Sanfona”, “Saudade de Seu Domingos” e “Frevo pra Ela”. Uma das poucas faixas não inéditas é o clássico “Gostosão”, de Nelson Farreira (1902-1976), rearranjado com direito a solo de Waldonys, famoso sanfoneiro e piloto de avião cearense (!). Ingressos à venda no BlueTicket.



 ANÇAMENTOS



Holy Ghost!, Crime Cutz – Enquanto não solta o sucessor do ótimo Dynamics (2013), a dupla indie eletrônica nova-iorquina esquenta as turbinas com este EP. São quatro faixas que acentuam a vocação dos bacanas em cumprir com os fundamentos da pista, desta vez à base de disco funk com um quê de espacial.



Tee Mac, Nepa Oh Nepa – O nigeriano alcançou sucesso global com sua flauta mágica nos hits “Fly Robin Fly” e “Get Up & Boogie” na década de 1970. Esta coletânea reúne músicas menos famosas dos álbuns Party Fever (1980), Mixed Grill (1979) e Night Illusion (1980), prestando o devido tributo a um obscuro mestre do groove da fase clássica do estilo.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Nenhum comentário: