20160412

Sem pressa de conquistar você

Na dimensão paralela habitada por Mayer Hawthorne, o mundo ainda acredita no amor embalado pelo soul da década de 1960. A presença de elementos dessa época no som e no visual é tão forte na trajetória do americano que a gente nunca sabe se é para levá-lo a sério ou se tudo não passa de uma grande tiração de sarro com a onda vintage. Branco, com cara de nerd e dono de um falsete de espremer os olhos, ele apresenta o quarto disco sem fazer nenhum esforço para acabar com a dúvida – que, a essa altura, já se tornou uma questão irrelevante diante do deleite proporcionado por Man About Town.

Caso o público catarinense não esteja associando o nome ao artista, trata-se daquele magrão estiloso que em janeiro de 2011 fez um dos shows de abertura para Amy Winehouse no Summer Soul Festival, em Florianópolis. De lá para cá, além da carreira solo Haw­thorne apareceu em álbuns de projetos como Jaded Incorporated (2014) e Tuxedo (2015), sempre calcado em vertentes da black music. Mas é sob a própria assinatura que ele reserva o melhor de sua obra: uma inegável vocação para, literalmente retrô ou com pontuais concessões a uma pegada mais atual, cunhar canções que balançam em velocidade de cruzeiro.



Da lavra mais tradicional, não dá para ignorar a sofisticação sem afetação de Cosmic Lovee os corinhos enternecidos de Breakfast in Bed. Como de costume, há também um reggae de gravata borboleta (Fancy Clothes) e um soft rock que emula de Wings a Steely Dan (The Valley). A novidade, se é que se pode chamá-la assim, vem da canastrice assumida em Lingerie & Candlewax, em que uma batida safada desperta os instintos mais primitivos. O figura chega a engrossar a voz para convencer na milenar arte de conquistar, apontando um caminho diferente para futuros trabalhos. Afinal, a variedade é o molho da vida.



Milonga moderna
Anunciado como um dos destaques da programação do Jurerê Jazz Festival, Philippe Cohen Solal desembarca em Florianópolis como uma incógnita. A referência imediata é o Gotan Project, trio em que ele ajudou a formatar o tango com investidura eletrônica. A ideia se materializou no excelente disco de estreia do grupo em 2001, inspirou um sem número de imitadores e, desgraçadamente, virou sinônino de música de coxinha (na acepção janota do termo, nada a ver com política). O francês se apresenta na cidade no dia 22 como DJ, trazendo um set que privilegia ritmos étnicos – leia-se não anglo-saxônicos – revestidos com batidas moderninhas. A promessa é de uma noite adulta, chique e, conforme a disposição etílica, sensual. Vá de táxi.




 ANÇAMENTOS



Balthazar, Encantamento – O quarteto de Criciúma se define como uma banda de rock clássico com um fundo místico. A proposta musical fica bem clara com as guitarras setentistas e/ou psicodélicas que envenenam as 10 faixas do disco. Já o lado espiritual deve ser creditado a petardos com títulos como Jung e o TarôO Magoou Ouroboros. Melhor não mexer com eles!



Alceu Valença, A Luneta do Tempo – Para a trilha sonora de sua estreia como cineasta, o pernambucano revisita os sons da infância, buscando influências na literatura de cordel e nas emboladas do sertão. São 28 temas distribuídos em dois CDs e entremeados por diálogos da trama, em que o pop da carreira de Valença dá lugar às suas raízes.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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