O Primal Scream sempre confundiu causa e efeito. Ora o grupo escocês funciona como caixa de ressonância, reverberando o que acontece à sua volta; ora como emissário do rumo que seus pares deverão tomar. Com 30 anos de bons serviços prestados ao pop, não seria agora que a banda iria se despregar dessa conduta. A novidade em seu 11º disco, Chaosmosis, é que o quinteto aponta o radar para a própria carreira, evidenciando os acertos e erros que fizeram com que o líder Bobby Gillespie fosse ungido à condição de visionário ou rebaixado como um reles seguidor de tendências.
No primeiro single, Where the Light Gets in, a cantora americana Sky Ferreira contribui para adicionar um gosto de tecnopop inédito na trajetória dos britânicos. Na faixa que abre o trabalho, “Trippin’ on Your Love” , são as minas do trio Haim que colorem uma delícia indie-dance digna de Screamadelica (1991), considerado o melhor álbum da década de 1990 por muita gente respeitável. Embora em posições estratégicas dentro do contexto da obra, as participações especiais param por aí. Nas demais oito faixas, o mérito (ou a culpa) integral é da banda. Aí, depende da expectativa.
Se a intenção for revisitar o punk eletrônico de XTRMNTR (2000), “When the Blackout Meets the Fallout” cumpre o papel com louvor. O lado Rolling Stones, já explorado pelo grupo em diferentes circunstâncias em sua discografia, diz alô com “Golden Rope” e seu solo de sax (?!) pontuado pelo coral “aleluia” (?!?!). E a cara moderninha que não desgruda do Primal Scream aparece em “I Can Change”, “(Feeling Like a) Demon Again” e “Autumn in Paradise” emulando um Gorillaz de carne e osso. Na balança, Chaosmosis está longe de ser uma obra-prima. Mas renova os laços dos fãs com a atualidade.
Nome difícil, apelo fácil
Faça um favor a si mesma e procure pela banda DIIV. O quarteto do Brooklyn nova-iorquino surgiu em 2012 com Oshin, mas é com o segundo disco, Is the Is Are, que vem arrebanhando com um pop afiado e doce. O negócio soa tão familiar que, com a imaginação à solta, é possível associá-lo até a Dois, da Legião Urbana. As cinco primeiras músicas – de “Out of Mind” a “Blue Boredon (Sky’s Song)” – cativam de cara e enchem a boca de água para o banquete: são 17 canções do mesmo (alto) nível, quantidade rara para um álbum e que mostra o quão inspirado estava o quinteto. Vá atrás o quanto antes.
L ANÇAMENTOS
Africaine 808, Basar – “Spiritual jazz”, “funk nigeriano”, “cosmic disco” e cumbia são tentativas de rotular esta dupla alemã que transcende fronteiras musicais. Ignore as convenções e mergulhe no universo eletrônico dos caras sem medo de se surpreender com a gravidade de “Language of the Bass” ou o delírio sintético de “Rhythm is All You Can Dance”.
Napkin – Dica do chapa Rubens Herbst, titular da coluna Orelhada do jornal A Notícia, a banda joinvilense já abriu para Far From Alaska (o que dá uma ideia do seu som) e chamou a atenção do selo Coqueiro Verde. Agora, chega ao seu segundo EP disposta a alçar voos mais altos. Já disponível em plataformas de streaming como Spotify e Deezer.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
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