20150918

Pistas precisam de deuses – mesmo de papel

O Duran Duran não só ainda existe como está com disco novo, Paper Gods. É que desde os anos 2000 cada trabalho do veterano grupo inglês vem sendo tratado como se representasse a sua volta. No anterior, All You Need Is Now (2010), o apelo era a produção do fã confesso Mark Ronson (Amy Winehouse), contratado para trazer a sonoridade da banda para a década corrente. Ele permanece nos créditos, mas é a retomada da parceria campeã com Nile Rodgers que torna este lançamento tão especial.



Um pouco de história: criado em 1978, o Duran Duran já havia emplacado sucessos do quilate de “Save a Prayer” e “Rio, pequenos se comparados com o que viria após chamar a máquina de hits por trás do Chic para produzi-lo. Mais do que pilotar o multiplatinado single Reflex (1983) e o álbum Notorious (1986), Rodgers deu forma à identidade com a qual a banda passaria a ser reconhecida. Ficou impossível dissocia-la daquela guitarrinha funky deitada sobre uma cama de teclados, elementos que forjaram os melhores momentos dos britânicos.



No 14º disco do grupo, a tabelinha reaparece apenas na infalível “Pressure Off” – não à toa escolhida como o primeiro single – e em “Change the Skyline”, porém seu espírito vagueia por todas as faixas. Essa sensação de que o “retorno” é para valer está em “What Are the Chances?”, balada que o Duran Duran sabe fazer como ninguém; ou em “Danceophobia” (com Lindsey Lohan!), que atualiza a pegada dançante do agora quarteto. Por isso, quando a melodia do vocal de Simon Le Bon irrompe no refrão de “Sunset Garage”, não há outra reação que não abrir um sorriso. Mesmo de papel, deuses sempre terão lugar na pista.

Punk no conceito
Outro nome dos anos 80 a ressurgir é John Lydon. O ex-Joãozinho Podre diz presente com What the World Needs Now, do Public Image Ltd. (PiL), a banda que montou depois de largar os Sex Pistols. Como o dito cujo já está naquela altura da vida em que o dedo do meio é a mensagem, ele pouco se importa em agradar – aliás, nunca se importou. Parafraseando o título do disco, há dúvidas se o que o mundo precisa agora é de um velho punk mandando a real com sua voz esganiçada. Às vezes, sim.




LOCAIS

////// O trio Helvéticos chega ao segundo disco mantendo forte a inclinação setentista. Em Hipnose, a banda de Porto Belo parece mais robusta, convicta de como pretende soar. O primeiro single, Deixa Acontecer, dá a impressão que os rapazes andam meio obcecados por Cachorro Grande – ou com as influências do grupo gaúcho –, mas quem explorar com atenção as outras nove canções do álbum pode gostar da proposta.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Nenhum comentário: