20150724

Independência como filosofia

O Wilco é mais um a liberar disco novo de graça. Basta fornecer o endereço de e-mail no site do grupo e você recebe um link para baixar o álbum Star Wars. Vai chegar, se é que ainda não chegou, o tempo em que artistas dando seu bem mais precioso – sua arte – será prática comum, mas o caso da banda de Chicago suscita algumas reflexões. A começar pelo título e a capa, com dois dos maiores geradores de memes nas redes sociais (Guerra nas Estrelas e um gato), a iniciativa mostra que o líder Jeff Tweedy entendeu direitinho o poder disruptor da internet e, por consequência, como sobreviver em um cenário musical esfacelado.



É importante salientar que não se trata de uma bandeca que surgiu ontem ou que não tem mercado. Com 20 anos de carreira e oito discos, o Wilco construiu uma sólida reputação no circuito indie dos Estados Unidos com um som que há muito transcendeu o alt-country, rótulo criado para designar a pegada “alternativa” incorporada à música de raiz (americana) do grupo. Em 2010, proclamou a independência ao romper com o selo Nonesuch, filiado à Warner, e virou protagonista da própria história. Abriu a gravadora dBpm, pela qual lança seus trabalhos. Também é dono do estúdio onde eles são gravados, The Loft.

A política do faça-você-mesmo não termina aí. O Wilco ainda organiza um festival, o Solid Sound, na qual é a atração principal. Além dos shows convencionais, faz apresentações só de covers, acústicos ou com setlist montado pelos fãs – que, se inscritos na página da banda, têm prioridade na compra de ingressos. Agora pare para pensar em que artista brasileiro do mesmo tamanho já se atreveu a fazer algo parecido. Por aqui, é muito mais cômodo ficar de mimimi, lamentando como o mundo é injusto ou esperando algum edital salvador, do que partir para a ação. Nem que seja promovendo vaquinha virtual para bancar o próximo trabalho.

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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