20150717

Futuro da eletrônica passa pela química

Tão jovem em termos históricos, a eletrônica já tem sua velha guarda. Fatboy Slim tornou-se o Chacrinha das pick-ups. Underworld não produz nada desde 2010. Daft Punk alimenta rumores de que vem coisa nova por aí. Prodigy e Leftfield lançaram álbuns em março e junho. E os Chemical Brothers estão voltando após cinco anos com o excelente Born in the Echoes. No disco, a dupla inglesa reafirma sua maestria em filtrar, recortar e traduzir referências da música pop através dos tempos em uma linguagem capaz de dialogar tanto com a moçada a derreter na pista quanto com o público refratário aos fundamentos do estilo.



Ed Simons e Tom Rowlands fazem eletrônica para quem não gosta (apenas) de eletrônica. Há exatas duas décadas, ajudaram a tirar o gênero do gueto (ao lado da rapaziada citada acima) com a estreia Exit Planet Dust. O negócio se ramificou a um ponto que a – como é referida lá fora – dance music dividiu-se em IDM e EDM. Uma, “intelligent”, experimental, com ambição artística. Outra, “electronic”, convencional, com fim comercial. Como se as caraterísticas fossem excludentes. Não são. Não com os irmãos químicos no estúdio em boa companhia.

A voz de St. Vincent (codinome de Annie Clark, cantora com bastante moral no meio alternativo), deixa o ambiente mais chique em “Under Neon Night”. “Go” impulsiona as ideias rápidas do rapper Q-Tip, do A Tribe Called Quest, repetindo a parceria campeã de “Galvanize (2005). Beck desfila na house de “Wide Open”. Mas Born in the Echoes bate especialmente forte com a faixa-título, pulsante, hipnótica, sinuosa, com a cantora galesa Cate le Bon; e em “l'll See You There”, odisseia lisérgica que remete a “Setting Sun” (1997). É nela que os Chemical Brothers expõem sua profissão de fé: “Futuro, verei você lá”. É para onde a manada deve seguir.

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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