20150605

Moleques libertam rock da mesmice

A música nova acumula-se em cima da mesa, no computador, no player. Lançamentos enviados por gravadoras, arquivos baixados de alguma nuvem suspeita, áudios fresquinhos em streaming, links para conhecer os talentos locais. Falta tempo e, essencialmente, saco para ouvir tudo. O cenário é quase desolador, até que surge o disco dos Slaves e restabelece a fé em um gênero sobre o qual não restava a menor esperança que conseguisse surpreender em 2015. A estreia dos ingleses, Are You Satisfied?, arrasa com a descrença no rrrock! (ênfase no “r” e na exclamação, pliz) e acena com dias mais divertidos para o estilo.



Tanto esporro só podia ser obra de dois moleques. Isaac Holman (23 anos) e Laurie Vincent (22 anos) vêm da cidade de Kent e se cruzaram ainda adolescentes em um grupo chamado Barefoot antes de adotar uma configuração básica como o som que desejavam fazer. O formato remete a White Stripes, Black Keys, Jon Spencer Blues Explosion e demais nobres representantes de uma linhagem em que não são necessários mais do que vocais, guitarra e bateria para gerar uma barulheira danada de boa. A diferença está na pegada: em vez de blues tosco, a gana dos Slaves parte do punk.



Em pouco mais de meia hora, pelas 13 músicas desfilam ecos dos onipresentes Sex Pistols e Clash embalados em porra-louquice new wave tão tradicional quanto o sotaque britânico em que são urradas. “Cheer Up London”, “Sockets” e “Hey” grudam à primeira audição. Na segunda, a faixa- título, “Live Like an Animal” e “Ninety Nine” confirmam o frisson em torno dos guris – já apontados pela BBC como uma das revelações do ano. São muitos os exemplos de bandas apontadas como “a próxima grande coisa” que voltam para o nada de onde vieram. No caso dos Slaves, o hype está mais do que justificado.

Novidades cansativas
A distância que separa Hot Chip e Gang do Electro é maior do que o oceano entre o Reino Unido e o Pará, mas seus discos novos chegaram juntos à redação e padecem do mesmo defeito. Why Make Sense?, o sexto do quinteto londrino, ganhou edição nacional acompanhada da informação de que a primeira música de trabalho, “Need You Now”, ocupa o topo da parada alternativa na Inglaterra. Todo Mundo Tá Tremendo, o segundo do quarteto belenense, exala aquele ar brega impregnado com cumbia, carimbó e reggaeton do anterior. Com certeza há avanços em ambos, com um soando mais atmosférico em suas tinturas eletrônicas e outro mais elaborado dentro da fórmula escolhida. No entanto, parecem ser mais longos do que realmente são, sinal inequívoco do cansaço que provocam.





TEM QUE CONHECER ||||||| LEONARD COHEN
Cantor, compositor, poeta, escritor e… monge budista. Aos 80 anos, o canadense continua levando a sério seu mais recente retorno, iniciado em 2001 com Ten New Songs, o primeiro disco de inéditas desde 1992. De lá para cá, já lançou mais cinco trabalhos, dos quais o último é Can’t Forget. Como o antecessor (Popular Problems, do ano passado), foi gravado ao vivo, com o acréscimo de duas inéditas, “Never Gave Nobody Trouble” e “Got a Little Secret”. Se não acrescenta muito, pelo menos lembra que se trata de uma lenda viva, com no mínimo um clássico na carreira – a estreia Songs of Leonard Cohen, de 1967. Classificado como folk, melhor dizer que é música de gente grande.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Nenhum comentário: