20150522

Como durar em uma banda de rock

Uma divindade da Era Dourada do Rock costumava dizer que bandas nascem regidas por três condições. Um, os integrantes são (muito) amigos. Dois, eles gostam (muito) do que produzem. Três, ganham (muito) dinheiro com isso. Se calhar de todas ocorrerem ao mesmo tempo, beleza. Mas, como atingir e estender esse momento favorável para sempre é impossível a reles mortais, pelo menos duas delas têm que estar em vigor (com alguma intensidade) para manter um grupo forte e unido.

E assim acontecia. Amizade sem satisfação nem grana: não segurava. Satisfação sem grana nem amizade: não realizava. Grana sem amizade nem satisfação: não pagava. A aplicação da regra explica o fim de diversas de bandas em sua formação clássica. Aliás, de qualquer sociedade, até de um casamento. Em algum ponto do processo, porém, os conceitos foram revistos. Radicais abrandaram suas posições, impulsivos tornaram-se ponderados, limites adquiriram flexibilidade – contanto que as pedras continuem rolando.

Ou quisessem voltar a rolar, ainda que no piloto automático. Em consenso, mercado, fãs, mídia e artistas começaram a acreditar que bastaria a última condição para justificar a permanência – ou o retorno – de uma banda. Quando tudo indicava um novo ciclo de prosperidade, com ídolos ressuscitando como caça-níqueis, apareceu a internet para reescrever a História. Aos grupos já estabelecidos, redivivos ou não, (cada vez menos) grana. Os surgidos desde então devem se contentar com, se tanto, amizade e/ou satisfação. Quem nada tem, nada teme.

LOCAIS

////// Uma das bandas mais promissoras de Florianópolis, Noahs, nunca fez show na cidade. Por um motivo prosaico: não tinha baterista. A entrada de Felipe Hipólito nas baquetas resolveu o problema de Bruno Bastos (guitarra, mandolim) e os irmãos Murilo (voz e violão) e Danilo Brito (baixo), que agora podem pensar em gravar outro EP e, com isso, subir ao palco para mostrar seu indie folk. O primeiro, Cedar & Fire, saiu no ano passado e arrancou elogios inclusive desta coluna.

 Os manos são de Goiânia e vieram para a Capital em 2006, após quatro anos em Mississauga, perto de Toronto, no Canadá. Lá, moravam com a mãe, faxineira de uma família de brasileiros dona de uma casa no manezíssimo Rio Vermelho. Na volta ao Brasil, não deu outra: vieram os três para o bairro no Norte da Ilha, onde ela retomou sua atividade (instrutora de dança) e os filhos se jogaram na música.

 – O Murilo é que acompanha as bandas mais novas, eu sempre fui mais fã de rock clássico – conta Danilo.

 Dessa combinação brotou uma sonoridade que, conforme a idade do ouvinte, remete a Mumford & Sons, Of Monsters and Men e The Lumineers ou a Van Morrison, The Band e Neil Young. Na hora de batizar o negócio, repararam que alguns artistas de que gostavam traziam bichos nos nomes, como o australiano Boy and Bear e o californiano Sea Wolf.

 – Aí escolhemos Noahs (Noés), o “acolhedor dos animais” - finaliza o baixista.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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