20150410

Maluco total na loucura real



Com no mínimo 13 anos de estrada no lombo e três discos na algibeira, o Cidadão Instigado chegou naquele estágio da carreira em que pode se dar ao luxo de ter algumas certezas. Uma delas é de que só será popular entre a massa se houver uma mudança radical nos valores que regem as paradas de sucesso. Tem artista que, quando chega a essa conclusão, entra em parafuso ou parte para outra. O grupo cearense, não. Simplesmente ligou o f***-se e cunhou Fortaleza, seu trabalho mais maluco e, por mais paradoxal que pareça, centrado.

Nenhuma palavra que se escreva aqui vai conseguir traduzir o arrebatamento provocado por essa nova investida (disponível para download gratuito no site da banda) do quinteto liderado por Fernando Catatau. É um acerto de contas com suas as origens, não apenas geográficas – ao batizar o trabalho com o nome de sua cidade-natal –, mas sobretudo conceituais: toda uma tradição de nordestinos alucinados & apocalípticos que vai de Raul Seixas a Zé Ramalho, sem abrir mão do melhor do rock setentista que pirou o cabeção deles.

Repente progressivo, brega psicodélico, Pink Floyd no agreste; tantas são os caminhos sugeridos que que destacar alguma música periga reduzir a experiência. À primeira audição, o vivente se encanta com “Dizem Que Sou Louco por Você” e “Os Viajantes”, o mais próximo de pop que se encontra na paisagem. Depois, a doideira corre solta em “Ficção Científica”, “Land of Light” ou na faixa-título. Em 2005, o Cidadão Instigado cantava que “é complicado procurar alguma coisa onde não existe nada”. Em Fortaleza, a beleza está na própria busca.

Homenagem hermana
Esse lance de homenagear alguma cidade no nome do disco também pegou Florianópolis. E nem veio de manezinho: foi um argentino, Sebastian Litmanovich, que lançou um álbum xará da Capital. Assinando como Cineplexx, o hermano descreve o trabalho como “um coquetel de sons dançantes – disco music, bossa, afrofunk, eletrônica e pop – que transporta o ouvinte para um lugar exótico onde os amantes passeiam no verão, guiados pelo horizonte e pelo mar até a ilha mágica”. Com certeza ele não estava falando de Canasvieiras (brincadeira!).



LOCAIS
////// Amanhã os Lenzi Brothers apresentam o sétimo disco, Quatro Rodas no Chão, em show na Galeria Bar, em Lages. Apesar de dois terços do grupo não morar mais na Serra Catarinense desde 2004, o guitarrista e vocalista Marzio Lenzi explica que a cidade foi escolhida “pela sua forte ligação com as raízes da banda e público caloroso”. Somente no dia do lançamento, o rock musculoso com influências de blues das 12 músicas inéditas (de um total de 14) poderá ser baixado na fanpage da banda no Facebook.

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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