20141010

Mais cabeça, menos rádio



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Lá vem Thom Yorke testando a gente. A julgar pelos últimos trabalhos com o Radiohead, com o projeto paralelo Atoms for Peace ou em seu nome, o vocalista chegou a um paradoxo: sua produção recente é tão anticonvencional – em todos os sentidos – que surpreendente mesmo seria ele gravar um CD cheio de músicas assoviáveis, apresentá-lo em programas de auditório e o colocar à venda nas “melhores casas do ramo”. Não é o caso de Tomorrow’s Modern Boxes, sua segunda incursão solo.

O novo álbum do inglês remete ao isolamento e à introspecção inaugurados em 2000, quando Kid A tornou sua banda mais cabeça e menos rádio. Como virou praxe no som que faz desde então, requer seguidas audições. A insistência derrete o gelo em “A Brain in a Bottle” e revela fragmentos pop em “Guess Again”, “Truth Ray” e “The Mother Lode”. Essas e mais quatro faixas podem ser compradas via BitTorrent, serviço de distribuição e compartilhamento de arquivos predileto da pirataria online pelo qual o disco foi lançado.

Na outra vez em que confiou na humanidade para apreciar sua arte e pagar por isso, Yorke se deu bem. Em 2007, o Radiohead ofereceu In Rainbows em seu site por um preço a critério do consumidor. Foram quase 3 milhões de cópias, comercializadas a seis dólares cada, em média. Um exemplar legal de Tomorrow’s Modern Boxes sai pela mesma meia dúzia de verdinhas, mas sempre se consegue um jeitinho de baixá-lo de graça e votar contra a corrupção. Em uma semana, ultrapassou um milhão de downloads. Vale a pena acreditar.

Sorrisão na cara
Tudo o que a música “Is This How You Feel?” insinuava no ano passado, o recém-nascido disco do The Preatures confirma. O pop caprichado com voz de fêmea, hormônios de adolescente e tesão de estreante de Blue Planet Eyes classifica a banda australiana entre as gratas revelações da temporada. Só muita raiva da vida para evitar que, além do single anterior, “Somebody’s Talking” (o atual) e “Whatever You Want” elevem o astral ou “Two Tone Melody” desperte paixões. Os coroas se lembram de Pretenders; os mais jovens, do Haim. Todos saem sorrindo.



Protetor solar
Reconhecido pelas levadas relaxantes Kings of Convenience e do Whitest Boy Alive, o norueguês Erlend Øye assina seu segundo disco acenando para o Brasil. A conexão de Legao com o país não se limita à transcrição fonética do sinônimo de cool em português ou a uma música chamada “Garota”. Largadão na praia, o gringo se defende do sol com o reggae miúdo de “Fence me In”, “Say Goodbye” e “Whistler”. Caipirinha nele.

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