20141017

Cansado de ser sexy



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

A estreia solo de Adriano Cintra consegue agradar mesmo se você não souber nada sobre ele. É um disco de música pop atual, com participações de artistas de estilos díspares e letras irreverentes. Mas um pouco de contexto deixa Animal com muito mais graça. O produtor, músico e compositor paulistano era a mente criativa por trás do Cansei de Ser Sexy, um dos raros grupos brasileiros a experimentar uma carreira de verdade no circuito indie mundial. Pulou fora em 2011, acusando geral. Pragueja até hoje.

Já que seu desgosto com a situação sempre foi público, é impossível não tentar encontrar alusões às antigas colegas em cada verso. Dá para começar a especular pela faixa-título, resposta de sangue quente para Planta, o murcho álbum lançado por elas no ano passado. “Não Ladrão”, apesar do nome descarado, trata de arengas empresariais com sutileza. Em “Deu Ruim”, o recado é direto. “Raposa, para de chorar. Sua banda nem é tão ruim assim. Se você quiser, eu faço mais música. É só pedir”, declama, entre a crueldade e o desdém.

Para o veneno não contaminar a pauta, Animal exibe convidados populares (Rogério Flausino, Gaby Amarantos), cultuados (Odair José, Guilherme Arantes) e alternativos (Tim Bernardes, d’O Terno, Nana Rizzini). Os listados contribuem para amarrar um combo “esperto”, em que a maior ironia – está característica tão adorada pelos hipsters – talvez seja involuntária: como Cintra se sai melhor quando embalado em um electro-rock bem similar ao que poderia estar compondo com Luiza Lovefoxxx em sua ex-banda. Do rancor, fez-se a arte.

Consolo no rock
Os fãs dos Smiths vivem dias mais tristes do que o habitual com o anúncio de que Morrissey, o eterno vocalista do quarteto, está com câncer. Playland, de Johnny Marr, ajuda a suportar a notícia. Tanto quanto o bardo de Manchester, o guitarrista ajudou a transformar em religião a banda extinta em 1987. Neste segundo disco, ele trocou a delicadeza por acordes robustos, como denuncia o single “Easy Money”. Numa hora dessas, só rock invocado mesmo para enfrentar a dor com força e esperança.



Sonhos ruidosos
Melodia e distorção convivem em Selfish, que o vocalista e guitarrista da banda Rascal Experience, Victor Fabri, lançou sob a alcunha de Frabin. O EP foi gravado em seu estúdio caseiro em Florianópolis e masterizado perto de Nova York, no Ranch Mastering, que tem Arctic Monkeys e Gorillaz como fregueses. As cinco canções emulam Jesus & Mary Chain e Sonic Youth, revelando climas lisérgicos sob as paredes de ruído. Descubra o que o rapaz tomou em soundcloud.com/frabin.

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