20140912

O desafio de ser relevante

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Na terça-feira, um dos poucos gigantes que restam sobre o planeta reapareceu com disco inédito após cinco anos em branco. Divulgado durante a apresentação do sexto modelo de um espertofone, aquele que vem sendo chamado de “o maior lançamento do mundo” estará disponível para ser baixado sem custo pelos 500 milhões de clientes da 119 países da loja digital da fabricante de celulares até amanhã. A partir de domingo, chega ao comércio em versão física e paga. As novidades envolvendo Songs of Innocence, do U2, acabam aí.

Logo no primeiro single, “The Miracle (Of Joe Ramone)”, fica evidente que a única coisa moderna no 13º álbum do grupo irlandês é a estratégia de marketing. As letras relembram suas experiências afetivas, sexuais, políticas e geográficas. A sonoridade vai no embalo com baladas lindamente coxinhas, das quais “Every Breaking Wave” e “Song for Someone” mostram um grande potencial para levantar estádios dispostos a aplaudir o Coldplay. Em time que está ganhando não se mexe, diz o clichê. Bem, o U2 se mexeu – para apenas empatar.

Nem a presença de um nome aclamado pela crítica como Danger Mouse (Black Keys, Broken Bells) entre os produtores salva o disco da mesmice. A intervenção dele é tímida demais para modificar o que tanto fãs quanto detratores acharão de “Sleep Like a Baby Tonight”, “This Is Where You Can Reach Me Now” e “The Troubles”. Com a identidade intacta e o boi na sombra, a banda encara um desafio muito mais difícil do que distribuir seu trabalho de graça para um em cada 14 terráqueos: ter alguma relevância hoje.

Colisão na pista
Uma década depois de causar certo buchicho no circuito alternativo com a guitarreira suja e dançante da estreia You’re a Woman, I’m a Machine, o Death From Above 1979 está de volta. A boa notícia, no caso, é que as batidas gordas, os baixões distorcidos e a os riffs garageiros da dupla canadense não caducaram com o tempo em The Physical Word. Pelo contrário, o disco tem uma pegada mais roqueira em “Trainwreck 1979” e “Government Trash”, com direito a refrão redentor em Crystal Ball para os punks se descabelarem na pista.



Psicodelismo a rigor
É impossível ouvir o autointitulado segundo disco d’O Terno e não lembrar dos Mutantes. Não por causa da formação em trio e da origem paulistana. E sim pela conexão estética: uma psicodelismo vintage diluído em viagens pop que chegam a flertar com o brega. Mas a maior semelhança com a clássica banda vem da ironia sugerida em “Vanguarda” e “Eu Confesso”, com menções ao “estilo indie-hippie-retrô-brasileiro”.

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