20090618

Atropelado pelos fatos

Cheguei em casa ontem à noite seriamente disposto a escrever sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Ia chover no molhado dizendo que não entendia como a medida melhoraria a qualidade da informação oferecida ao distinto público; que a argumentação usada para derrubar a exigência de formação acadêmica vale para qualquer ciência humana (abram o olho, ADEVOGADOS); que sempre haverá espaço para bons profissionais, diplomados ou não.

Aí vi o publicitário corintiano Washington Olivetto e o emo colorado TAVARES, da banda Fresno, ocupando a bancada do Jornal da Globo. Enquanto eles falavam de futebol – ou do esporte praticado por seus times –, percebi que eu estava tentando defender uma realidade que já não existe mais.

20090617

Se isso é som, nisso posso voar

Não sou Júpiter Maçã, mas também não estou fazendo bem a quem me ama. A começar por mim mesmo, recipiente de um coração acossado por elevadas taxas de triglicerídeos, glicose, colesterol e demais perturbações avessas a procedimentos laboratoriais. Algumas são controláveis por dieta, atividade física e abstinência tabagista. Outras apresentam efeitos incontornáveis que somente o novo trabalho dos Darma Lóvers, Simplesmente, parece amenizar.

Antes de prosseguir, é MISTER avisar que: a) acompanho-os desde a estreia, em 2000; b) já fui ao interior do interior da cidade gaúcha de Três Coroas entrevistar o casal nuclear do grupo, Nenung e Yang Zan, no templo Chagdud Gonpa Khadro Ling e c) não saio de casa sem o meu mala, o terço budista. Sou o que tecnicamente chama-se de fã. Portanto, não tenho nem quero ter a menor condição de discorrer sobre a banda com isenção.

Ainda mais depois que seu quarto disco materializou-se em plástico e papel na minha caixa de correio justamente quando eu me perguntava aonde foi parar aquele menino que queria cantar como o beatle George. “Folk psichedelia” (sic), diz o selo estampado na contracapa, como se o estilo predominante do hoje sexteto representasse uma das Quatro Nobres Verdades. As letras haveriam de trazer respostas mais claras. Para quê, mesmo?

Seja lá sobre o que for, o que Nenung escreve sempre traz algum alento. Sem dogmas, sem cobrança, sem culpa. Mantras em potencial rendem-se na faixa-título, (“amar sem querer mais que amar simplesmente”), acusam o golpe com “Srta. Saudade da Silva” (“entendo que você esteja feliz/ você tem a você e eu não tenho”) e atingem a SUBLIMAÇÃO em “Sem Eira nem Beira” (“busco por ti aqui dentro e me voo/ solto da reta de sempre”).

Transitoriedade, imperfeição e recomeço passam por “Gigante”, oferecendo em versos simples (“sei que não sou nada que possa durar/ mas me reconheço e sei mudar”) um intensivo de budismo para iniciantes. Como mente de principiante é igual a mente zen, os Darma Lóvers não poderiam estar mais alinhados com a não-dualidade, o vazio e a iluminação. Usando o pop como suporte, a banda cumpre o que toda religião promete: jogar um pouco de luz sobre nossos enigmas de desejo & finitude.

OS THE DARMA LÓVERS, Gigante


PS: Para falar a verdade, quase não uso meu mala. Mas li Sidarta na idade certa para jamais esquecer de escutar o rio e assimilar seus conselhos.

20090602

É preciso tocar a vida para dela emergir

As escassas leitoras deste VEÍCULO debatem-se, indóceis. Querem mais, querem melhor, querem tudo e querem agora. Lamento, sorrio, finjo que não é comigo e tento me justificar: ando tocando umas musiquinhas por aí. Só não digo que a repórter foi profética em sua dúvida porque minha performance sobre dois CD players e um mixer me credencia, na maior boa vontade, como um DISCOTECÁRIO e, na menor, como uma fraude. Em ambos os casos, saio no lucro – e não me refiro somente aos trocados que pingam na minha mão no final da noite, dobrados dentro do cartão de consumo carimbado com um “livre”.

Afinal, não estou enganando ninguém. Quem escala o maximal Marcos Espíndola pode até ignorar que faço parte do pacote, desde que alertada que está sujeitando a sua festa aos caprichos da FALCATRUE. A alcunha, de inspiração inequívoca, traduz a natureza do nosso, er, set. Picareta, sim. Mas de coração. E é nesse espírito enlevado pela incondicional paixão ao Movimento Curvilíneo Uniforme delas que temos sido mobilizados para saciar pistas interessadas e interessantes. Sem expectativa, sem frustração.

O nome na filipeta já veio acompanhado de (em ordem cronológica) rótulos como breakbeat, electro, rock, funk e pop, todos vagos para descrever com precisão o que vai rolar – nem a gente sabe. Somos conduzidos por sinais, como a lapidar frase de um intelectual químico diante da JOGAÇÃO causada por algum truque sujo gravado em um CD identificado por garranchos em tinta verde: “O som de vocês está mais gay do que o do próprio gay que tocou antes”. Sem nenhum demérito, a assertiva apenas ratificou que estávamos promovendo, com sucesso, o importante fundamento que a norma culta manda chamar de UMBIGADA.

Isto posto, as cada vez mais escassas leitoras deste veículo continuam indóceis. Não entendem o que três ou quatro discotecagens têm a ver com não serem mais entretidas, ainda que no período diurno, com uma reles migalha de autossabotagem ou, que seja, com algum “baita papo furado” aqui expelido. OK, vou direto ao ponto: é muito mais enriquecedor mostrar música para os outros do que escrever sobre música. Ou, Matias que o diga, das pickups sai mais jornalismo musical do que dos impressos.

Restariam outros assuntos, não fossem vetados por um pessoal e intransferível critério de classificação. Sexo é muito melhor praticar do que EXPLANAR; política estaria influenciada pela minha atual atuação profissional; futebol só depois que meu time libertar a América; vida pessoal me recuso a expor. Donde sobra a música, soberana. Com a nada desprezível diferença de que, ao contrário da função da crítica, tocar para uma audiência implica em agradá-la – desafio que, segundo o Marquinhos, nossos recém-adquiridos dotes de SELETORES terão a próxima oportunidade de enfrentar nesta quinta-feira (4/6) já foram recrutados para enfrentar no dia 4 de julho, no El Divino. Não vejo a hora de ser intimado, de cabeça inclinada, fone na orelha e dedo em algum botão que desconheço a serventia, para soltar qualquer coisa que estimule a FRITURA.