20081030

O lado patético do sucesso

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De uns dias para cá, este VEÍCULO vem experimentando surtos de audiência como se não houvesse amanhã. São editores monitorando se eu publico alguma coisa nova, em busca de mais um motivo para me amaldiçoar até a sétima geração: “Ainda não entregou o texto que te encomendamos, mas tem tempo para besteira, né, bastardo?!”.

Espero, sinceramente, que meus constantes – e já folclóricos – atrasos não maculem nossa relação. E torço, com todas as minhas forças, para que caia a exigência de diploma no exercício do jornalismo. Assim, a atividade deixará de ser um ofício para se tornar a ARTE que de fato é, proporcionando-me álibis muito mais nobres para a procrastinação. Isso aqui não é uma pastelaria.

20081027

76.629

Esse é o número de eleitores que não votaram em ninguém no segundo turno da eleição para a prefeitura de Florianópolis. Quando ficou definido que a capital catarinense seria, inevitavelmente, gerida por este ou por aquele, pessoas esclarecidas dispuseram-se a fazer uma série de contorcionismos mentais para justificar sua preferência – ou tolerância – em um dos dois candidatos. Destaco os argumentos, um para cada lado, que mais me chamaram a atenção.

1) “Vou votar no mais velho, que já roubou bastante, não precisa mais.” O raciocínio, de uma simplicidade que beira a caricatura, ignora que, nesse meio, ninguém rouba porque precisa. A corrupção é patológica. Ao contrário do ditado popular, em política é o próprio ladrão que faz a ocasião.

2) “Vou votar no menos velho, que é para enterrar de vez o outro.” Trata-se de uma visão mais sofisticada e pragmática do processo. Seria a primeira derrota de um, o que não o impediria de estar de volta daqui a dois anos pedindo o seu voto. Seria o terceiro revés consecutivo do outro (e para o mesmo adversário), o que deve incentivá-lo a dedicar cada vez mais o seu tempo a renhidas partidas de dominó. Não é nada, seria um a menos para se combater em 2010.

Foram apuradas 53.914 abstenções, 16.827 nulos e 5.888 brancos. Em um universo de 301.967 títulos, dá pouco mais de 25% do total. Significa que um em cada quatro cidadãos não se sentiu representado (entre outras razões rancorosas e impublicáveis) pelas duas propostas que lhe foram apresentadas.

São quase 80 mil pessoas. Gente de classes sociais, grau de instrução, gostos, religiões e ideologias diferentes, que se uniu no repúdio. É um baita público-alvo para algum negócio. Por defeito de ofício, só penso em publicação, como um pasquim semanal de custo baixíssimo, feito para dar lucro considerando que apenas 2% (1,5 mil exemplares) desse contingente iriam comprá-lo. Mas deve haver idéias mais criativas, rentáveis e prazerosas do que contar com o interesse da população por leitura.

Aceito propostas. Serão respondidas apenas aquelas que incluírem remuneração.

20081017

Pau-de sebo virtual com passaporte carimbado

De Olinda para o éter, o DJ Bruno Pedrosa manda avisar que saiu a compilação Criolina Brazilian Grooves, parceria da festa brasiliense Criolina com a revista francesa Brazuca. Enquanto baixo o pacote, penso como ainda vai demorar para o CD deixar de ser a referência de formato. As 34 faixas estão disponíveis online, dispostas para ocuparem dois discos, inclusive com capa e selo. Duvido que alguém vá realmente queimar uma cópia, imprimir as artes, recortar, colar na bolachinha e colocar em uma caixa plástica. Senão por todos os desperdícios envolvidos – dos quais o de tempo é que mais me aflige –, pela música.

Talvez a vadiagem esteja embotando minha opinião ou o negócio seja only for export, sei lá. Mas, pô, Bruno, tu mesmo já fez
coisa melhor do que esta “3 Segundos”. Assim como tenho certeza de que melhor vai ficar o disco de dub que tu anda fazendo com o Canibal, dos Devotos (ex) do Ódio. Quando sai? Quero me exibir dizendo que participei do nascimento da idéia, um dos raros lampejos que lembro antes de trocarmos a Feira Música Brasil de 2006 2007 por uma festa nelvosa no Preto Velho, no Alto da Sé: I Love Cafuçu, organizada pelas “lindinhas” locais, onde o “cafuçu” (homem canalha) pagava menos do que a “rariú” (corruptela do “how are you?” que as nativas usam para abordar o turista) e rolava de true brega a new rave.

O que se aproveita da coletânea não é exatamente novidade para qualquer um que acompanha minimamente artistas que “trabalham uma música brasileira moderna, atenta às misturas do resto do mundo”, conforme o release. Como esse remix beleza para “Guerreiro”, de Curumim, cujo show realizado há algumas semanas por essas plagas deixou os hormônios em uma situação grave, muito grave. Cheguei na segunda metade, a tempo de presenciar o trio comandado pelo baterista japonego transformar o samba em uma massa jamaicana. Se ele quisesse, poderia ficar improvisando por cima do riddim de “Under Me Sleng Teng” a noite inteira. Dopamina não ia faltar.

CURUMIN, "Guerreiro (Chico Mann remix)"

20081015

Dá licença que a cultura livre quer passar

Há um quê de ironia no lançamento, quase simultâneo, dos livros Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download e Tecnobrega – O Pará Reinventando o Negócio da Música. O primeiro é a autobiografia de André Midani, “homem de gravadora” de um tempo em que o mercado fonográfico era chamado de “indústria da felicidade humana” e as pessoas que nele desempenhavam alguma função executiva precisavam, necessariamente, gostar e entender um tantinho de música. A chegada do MP3 representou a morte (simbólica) do autor e (lenta) do mundo que ele ajudou a construir, principalmente no Brasil. O segundo, de Ronaldo Lemos e Oona Castro, disseca a cadeia produtiva do brega paraense. Surgida à margem da grande mídia e de gravadoras, é movida por artista, festas de aparelhagem, distribuidores informais (eufemismo para “camelôs”) e público.

Os dois estão à venda nas “melhores livrarias e casas do ramo”. Mas um permite que você baixe, gratuitamente, seu conteúdo integral.

20081006

Diálogos hipatéticos

— E esse segundo turno, hein?

— Nem fala! Tô pior que Jesus sendo crucificado!

— Hahahahaha, saquei, saquei, hahahaha!

(...)

— Tá, mas de que lado tá o bom?

— E tu te chama Jesus, por acaso?