20080407

Ganhe R$ 15 mil em barras de ouro – de tolo


Saquei que estava desesperado atrás de grana quando me flagrei participando de um negócio que eu tinha certeza que era falcatrua. Não sei nem o nome do programa, só que passava na madrugada na Rede TV. Ao lado do triângulo aí de cima, duas mulheres andavam de um lado para outro no estúdio, berrando com quatro caras instalados em uma bancada com computadores e telefones. O rodapé da tela exibia o motivo de tanto histerismo: “Acerte a soma do(s) triângulo(s) e ganhe R$ 15 mil em barras de ouro”, acompanhado da inscrição “R$ 500 para qualquer resposta” e um número de celular (com DDD de Curitiba) para participar do “concurso cultural”.

Em menos de 10 minutos, foram atendidas ligações de gente de todo o Brasil com seus palpites furados. Felipe, de Santo André: 196. Teresa, do Recife: 16. Paulo, do Rio de Janeiro: 42.938.82. A histrionice das apresentadoras aumentava à medida que as respostas erradas se sucediam. Para aumentar a pressão, surgiu um relógio cronometrando os dois minutos que faltavam para o programa acabar, seguido do anúncio. Findo o prazo, a gritaria continuou, informando que haveria mais dois minutos, seguido do anúncio “R$ 1000 para qualquer resposta”. Esses dois minutos, que já era quatro, viraram seis, oito, dez, e nada de alguém acertar o enigma.

Foi aí que resolvi tomar uma atitude, mesmo sem entender de onde viria o dinheiro, já que não havia nenhum intervalo comercial ou merchandising. Na pior das hipóteses, pensei, levo milzão. Na melhor, viro o mais novo partidão da ilha. Munido de minhas parcas recordações matemáticas do primário, peguei a pegadinha: o segredo estava no plural. Desmembrei todos os triângulos e comecei a somar um por um.


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Contando com o 196 resultante do triângulo cheio, deu 992. SÓ PODIA SER 992 (196 + 145 + 155 + 116 + 104 + 80 + 41 + 75 + 29 + 51). Já imaginando o estrago que faria com os 15 paus em ouro, corri para o telefone. No outro lado da linha, uma voz feminina me disse que eu precisaria responder algumas perguntas. “Tecle 1 para ‘verdadeiro’, 2 para ‘falso’, explicou. Depois de dez questões do nível de “Sérgio Reis é cantor de rap” e “Xuxa é loura” respondidas corretamente, comecei a ficar impaciente. Mas continuei no jogo.

Quando cheguei na vigésima (“Silvio Santos é jogador de futebol”), resolvi acessar o site que aparecia em letras miúdas no canto inferior direito da TV. Sem desligar (“O Brasil fica na América do Sul”), li o regulamento do concurso. Cada pergunta (“Manaus é a capital do Amazonas”) vale um ponto, e quanto mais pontos (“Baleia é um mamífero”) o candidato fizer, maiores suas chances de conseguir ser posto no ar, ao vivo, para tentar decifrar a charada.

Então é daí que vem o dinheiro, das ligações dos trouxas – por isso o interminável questionário. Desliguei o telefone, ainda a tempo de ver uma das mulheres exibir um cartaz com a resposta correta antes de encerrar o programa: 970. Embora não faça idéia de como obtiveram esse número, me conformei. Eu não levaria nem o milzão. E também não conheço ninguém que derreta ouro, mesmo.

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