20080309

A inesquecível cor de esmeralda da costa Noroeste

(Segunda de quatro matérias escritas em 2005 para o Visit Florida. Versão do autor.)

Parti de Orlando com 700 dólares na carteira, um mapa da Flórida no console e o tanque cheio. Minha rota consistia em seguir para o Norte pela I 75, dobrar para Oeste na US 27 e continuar em frente até estar na US 98 rumo a Panama City Beach, a 380 milhas (608 quilômetros) de distância. Simplificando: assim que a estrada virasse uma avenida à beira-mar, reduzir a velocidade, colocar um reggae para rolar e curtir a brisa. Nessa parte do litoral regida pelo fuso do centro dos Estados Unidos – uma hora a menos do que o restante da Flórida –, o difícil é não relaxar. Praias com areias brancas e águas tranqüilas dominam a paisagem tanto da Forgotten Coast (Costa Esquecida) quanto da Emerald Coast (Costa Esmeralda).

A primeira compreende Apalachicola, Eastpoint e St. George Island, onde andar de caiaque, pescar ou pedalar são as atividades mais populares. Na seqüência, continua o desfile da generosa orla banhada pelo Golfo do México. Em Cape San Blas, chamou minha atenção uma coisa que, depois eu perceberia, é comum na região. As casas são construídas sobre pilotis fincados diretamente na areia da praia. Com varandas na cara do gol, embaladas pelo barulho das ondas e defumadas pela maresia, constituem-se nos refúgios ideais para um homem realizar sua grande obra, seja um romance ou o cultivo de hidropônicos.

Depois de Port St. Joe e Mexico Beach, a US 98 desvia-se um pouco da costa e passa por Parker, Callaway, Springfield e Cedar Grove. Ganhei a escolta de aviões voando baixo ao atravessar a base aérea de Tyndall, mas fingi que não era comigo. Em Panama City (que não é a Beach), o trânsito intensificou-se. Aproveitei o pretexto e fui visitar o distrito histórico de St. Andrews. As boutiques, galerias, antiquários, igrejas, lojas e restaurantes que o integram são uma excelente opção para os dias em que o calor está suportável. Porque quando a temperatura sobe para valer, não tem jeito: carros e mais carros entopem a ponte Hathaway, via de acesso a Panama City Beach e também da Emerald Coast, composta por Destin, Fort Walton Beach e Okaloosa Island.

Não sou exceção. Cruzei a ponte e apostei na primeira seta que vi apontando para a praia. Desemboquei na Oceanfront Drive – sim, a beira-mar da cidade. Percorri suas mais de 20 milhas para constatar que Panama City Beach guarda muitas semelhanças com Balneário Camboriú (SC), Guarujá (SP) ou Barra da Tijuca (RJ). Em nome da infra-estrutura para receber o turista, levantam-se hotéis, alargam-se ruas, erguem-se viadutos. Até o comércio tipicamente sazonal – um monte de lojas populares, que vendem de óculos escuros a tatuagens de rena, de moda praia a roupas de cama, mesa e banho, de brinquedos a artigos para cozinha – encontra similares no Brasil. A diferença é a ausência total de calçadas para pedestres.

Afora isso, o paredão de prédios de Panama City Beach acaba diretamente na areia da praia, sem nenhuma rua entre eles e o mar. Driblando as propriedades particulares defronte ao mar, finalmente encontrei uma entrada para a areia no Richard Seltzer Park. Para direita ou para a esquerda, é praia até onde a vista alcança. A sensação térmica, de uns 50 graus à sombra, apressou minha decisão. Guardei a câmera fotográfica e o bloco de notas, tirei as sandálias e a camisa. Doravante, eu seria apenas turista. Ainda a trabalho, mas coletando informações de um jeito, digamos, mais ativo. O mergulho mostrou-se providencial para arejar as idéias.

Do refresco veio a disposição para explorar outros recantos de Panama City Beach. Na ponta esquerda, o St. Andrew State Park espraia-se por uma área que engloba trilhas naturais, espaço para acampamentos e para piqueniques, passeios para Shell Island e uma praia radiante. Não é força de expressão: a luz refletida na areia turva a visão e não deixa outra alternativa se não ir para o mar. Um apito soou para que as pequenas embarcações e os praticantes de esportes náuticos abrissem passagem no canal para o navio que chegava à Baía de St. Andrew. O alarme me lembrou que eu ainda não tinha arrumado lugar para me hospedar.

Já confortavelmente instalado em um hotel na Oceanfront Drive, repassei o que havia por fazer no dia seguinte. De acordo com minha programação, eu tinha mais praias da cidade a visitar – na verdade, uma praia só desde St. Andrew State Park, o que muda é o nome de cada trecho (Open Sands, Edgewater, Laguna, Santa Monica, Sunnyside, Hollywood), com o County Pier no meio. À direita da sacada do meu quarto, o sol caía por trás de outro píer, o Dan Russel. Era nele que eu mirava para clicar todos os matizes pintados pelo poente. Cerca de 200 dólares mais pobre, sem gasolina no carro e com um mapa inútil na mão, porque tão cedo eu não iria embora.

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