20080220

Artistas queimam dinheiro que loucos rasgam



Agora entendo o que o escritor, produtor, curador e outras profissões-que-não-exigem-diploma Alex Antunes sentiu quando uma revista lhe encomendou uma matéria sobre Dennis Hopper. Entre outras informações, o então repórter apurou que o ator-diretor-ícone da contracultura brincava de explodir bananas de dinamite à sua volta e que viu discos voadores no Peru durante as filmagens de seu segundo filme, The Last Movie, em 1971 (logo depois de Easy Rider). “Eu disse para mim mesmo: ‘O cara faz essas merdas todas e eu vou escrever a respeito?!’, contou. “De repente isso me pareceu tão indigno... Eu tinha mais é que tentar ser como ele!”

O autor de A Estratégia de Lilith gosta de mentir dizendo que foi ali, “em algum momento dos anos 1990”, que desistiu do jornalismo. Não chego a tanto. Mas sou acometido por desconforto semelhante ao falar do KLF – Kopyright Liberation Front.
Reza a sabedoria popular que “louco é quem rasga dinheiro”. A dupla inglesa queimou. Em 23 de agosto de 1994, Bill Drummond e Jimmy Cauty fizeram uma fogueira com um milhão de libras no interior de um pequeno abrigo para barcos na ilha de Jura, na costa escocesa, em uma bizarra crítica à ganância do meio artístico. 

Foi o ponto alto de uma carreira oficialmente encerrada em 1992, em plena cerimônia do Brit Awards que os premiou nas categorias de melhor grupo e melhor álbum do a
no. Escalados para tocar no evento, eles desconstruíram seu hit da época, “3am Eternal”, em uma performance que incluía Drummond metralhando a platéia com um fuzil munido de balas de festim, seguida do anúncio: “O KLF acaba de abandonar a indústria musical”. Na saída, deixaram a carcaça ensangüentada de uma ovelha no lobby do hotel onde rolava o convescote.

Eu é que não vou ficar escrevendo.


Vou é consultar o livro que a dupla lançou em 1988, no qual revelam seu método “zenarquista” de fazer o impensável acontecer – mesmo que isso signifique emplacar no primeiro lugar da parada inglesa.
Antunes jamais entregou o serviço.
Eu, pelo menos, consegui expelir um post inteiro só para compartilhar um arquivo que encontrei clicando por aí. Não, não precisa me agradecer. Este é mais um oferecimento do Poder Randômico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô, eu tenho esse livro, era só pedir. Um dos trechos que mais curto é quando ele recomenda um estúdio de pelo menos 16 canais. "Alguns engenheiros de som vão lhe dizer que Sgt. Peppers foi feito com gravadores de quatro canais. Isso é tão relevante quanto saber que as pirâmides foram construídas sem guindastes". Bill Drummond, aliás, é um gênio.